Sobre Marcelino da Mata e
outros que entretanto vieram a público
outros que entretanto vieram a público
Tenho acompanhado minimamente todo o desenrolar do processo sobre a morte de Marcelino da Mata e lamentavelmente tenho lido ou ouvido algumas barbaridades iguais às que se diz terem sido feitas por ele.
Conheci pessoalmente Marcelino da Mata só depois do ano 2000, mas reconheci neste camarada de armas um homem vertical, directo e afável sem fantasmas ou queixumes como não vejo ser o caso dos seus detractores.
Estive na Guiné, na Arma de Transmissões do STM entre 15 de Junho de 1972 e 20 de Julho de 1974. Andei por Mansoa, Aldeia Formosa (Quebo), Bolama e Bissau e inevitavelmente ouvi falar e contar muitas histórias de Marcelino da Mata.
Lembro-me de alguns dos operacionais dizerem “hoje podemos dormir descansados, o Marcelino anda por aqui”, curiosamente não me lembro de nenhum referir que o Marcelino era um assassino ou que era um traidor, como me parece haver alguns depois do 25 de Abril de 1974, por opções e/ou oportunidades políticas.
Sempre foi falado o facto das tropas africanas, em especial os Comandos Africanos terem uma actuação mais radical por onde passavam, é um facto, em especial com as bajudas, mas isso tinha muito que ver com a idade… Não ficaram também lá filhos de militares brancos do continente?
O porquê da gota de água que faz transbordar o copo?
Assisti a uma conversa, não chamo debate e muito menos esclarecimento sobre Marcelino da Mata, na TVI 24 pelas 23H00 do dia 16 do corrente. Reconheço à TVI o papel de ter sido a única que, ao que se me deu saber, lembrar que tinha havido o funeral do militar mais condecorado do Exército Português, logo um militar ao serviço de Portugal.
Não foi feliz a escolha dos intervenientes, um, honestamente, confessou algum desconhecimento sobre a figura que iam debater, enquanto o outro assumiu-se como um verdadeiro conhecedor da matéria.
Considero o que vi lamentável. Não posso deixar de manifestar aqui a minha opinião sincera e desinteressada sobre os protagonistas.
Conheci Fernando Rosas, sem que com ele privasse, mas conheci-o e tinha por ele, enquanto historiador, alguma admiração e até simpatia, já enquanto político parece-me medíocre. Filiado num partido que lhe proporcionou ser figura pública, parece-me tê-lo levado a voos para os quais não está preparado e ao esgrimir argumentos sem conhecimento e de forma politicamente tendenciosa, torna-se incompetente e suspeito nas suas análises históricas.
Não sei se Fernando Rosas fez o serviço militar, e se o fez, quando e onde. Como político desviou sempre a conversa dizendo que estavam a falar de Marcelino da Mata e dos seus crimes. Como o fazem os políticos, aproveitou-se de uma publicação, no Facebook, feita por um outro camarada que prestou serviço no gabinete jurídico militar em Bissau, Mário Barbot Costa, que na qualidade de escritor assina como Mário Cláudio, para dizer que tinha havido vários processos contra Marcelino da Mata, mas que todos tinham sido arquivados por ordem não se sabe de quem. É estranho não se saber de quem, mas enfim, isso serve para outro tema. Contudo mostrou total desconhecimento e ignorância sobre Marcelino da Mata, aproveitou-se e recorreu a outros para fazer o seu papel político e desenfrear um ataque torpe e mesquinho a quem nunca conheceu.
Sem qualquer pedido ou necessidade de defesa, uma vez mais e em minha opinião, conheci e privei por mais que uma vez com Mário Cláudio por questões profissionais e já fora da instituição militar, não digo que o conheça de forma a poder afirmar o que pensa, mas estou em crer que apenas disse o que disse para não endeusarem Marcelino da Mata, tanto assim que, segundo Fernando Rosas, começou por escrever que respeitava o combatente Marcelino da Mata, referindo depois ter havido processos arquivados. Não li o que escreveu Mário Cláudio.
Na qualidade de historiador e político, de forma séria, competia-lhe fazer um enquadramento histórico sobre as etnias guineenses e o seu relacionamento para depois falar da actuação de Marcelino da Mata. Talvez então pudesse falar sobre o ataque de que foram alvo e barbaramente assassinados três majores e um alferes, quando desarmados se deslocaram ao que seria um encontro com tropas do PAIGC, combinado secretamente e que visava o início de um cessar fogo…
Ribeiro e Castro ainda lembrou o que fizeram a Marcelino da Mata, depois de 25 de Abril de 1974 os esbirros políticos ligados a alguns partidos ditos de esquerda ou extrema esquerda e que em nada eram e foram diferentes dos seus antecessores da PIDE/DGS, mas não obeve qualquer reacção do seu interlocutor nem do moderador que, à deriva e sem mostrar conhecimento dos factos, deixou navegar sem norte. Nada é comparável? Falamos depois de 25 de Abril de 1974. Talvez só não o tenham morto por receio, pois acredito não lhes faltar vontade e muito menos prazer.
Não quero deixar transparecer que Marcelino da Mata não fez ou não possa ter feito coisas execráveis e não merecesse até punição dentro da instituição que representava. Até para clarificação da posição de Portugal, mas tal como muitos outros processos foram, mesmo hoje em dia, arquivados.
Depois, não podemos e não devemos estar hoje a julgar procedimentos com 40 e muitos anos e fora do seu enquadramento. É verdade que um crime é sempre um crime, mas, como em todos os processos, algumas razões podem ter servido como atenuantes e, neste caso em concreto, a guerra, as etnias, a adrenalina ou calor vivido no momento, mas isso só quem os viveu realmente pode falar, para todos os outros não passa de filme.
Quando 'Nino' Vieira foi assassinado, num passado recente, talvez por ter chegado a presidente da Guiné, correu por aqui muita tinta a lembrar que tinha sido assassinado e falando sobre como ele tinha sido como aguerrido guerrilheiro que lutou pela sua terra e pelo seu povo etc. etc. etc. Ninguém se lhe referiu como assassino e ninguém falou sobre a bárbara forma como ficou retalhado. Isto só para comparação com Marcelino da Mata…
Também, quando Jonas Savimbi foi assassinado e nos foi apresentado como morto fez igualmente correr muita tinta nos nossos jornais, mas o politicamente correcto impede que isso se faça com Marcelino da Mata.
Estas duas notas servem para lembrar que se podia e devia falar sobre história e sobre as formas brutais e bárbaras como lutam entre etnias e até aproveitar para falar sobre temas como a mutilação genital feminina e outras práticas e tradições do povo africano no seu estado puro.
Há quem defenda que os anos passam por nós e nos tornam mais sábios e tolerantes, que os impulsos da juventude são corrigidos pelo passar dos anos etc. etc. etc. Não sei se será o que acontece com todos, a necessidade dos holofotes sobre si, a vaidade, ou outras razões de necessidade levam muitos a não conseguirem estar tranquilos e a obrigarem os outros a deixarem de estar.
Eu, e estou crente que muitos outros que passaram pela Guiné no período da Guerra, estão agradecidos à TVI por lembrar e falar sobre a morte de Marcelino da Mata, só lamento que não tenha sabido escolher melhor os elementos do painel e melhor preparado o moderador. Poderiam ter escolhido melhor as figuras do painel, mantendo as que quisessem, mas procurando outra ou outras figuras com conhecimento da operacionalidade de Marcelino da Mata, como, por exemplo, o Coronel Matos Gomes, igualmente figura pública com obra publicada, operacional em acções conjuntas, conhecedor e por certo, muito mais isento e assertivo nas palavras.
Resta-me desejar que Marcelino da Mata, finalmente, descanse em paz.
Um abraço,
Belarmino Sardinha
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)
Considero o que vi lamentável. Não posso deixar de manifestar aqui a minha opinião sincera e desinteressada sobre os protagonistas.
Conheci Fernando Rosas, sem que com ele privasse, mas conheci-o e tinha por ele, enquanto historiador, alguma admiração e até simpatia, já enquanto político parece-me medíocre. Filiado num partido que lhe proporcionou ser figura pública, parece-me tê-lo levado a voos para os quais não está preparado e ao esgrimir argumentos sem conhecimento e de forma politicamente tendenciosa, torna-se incompetente e suspeito nas suas análises históricas.
Não sei se Fernando Rosas fez o serviço militar, e se o fez, quando e onde. Como político desviou sempre a conversa dizendo que estavam a falar de Marcelino da Mata e dos seus crimes. Como o fazem os políticos, aproveitou-se de uma publicação, no Facebook, feita por um outro camarada que prestou serviço no gabinete jurídico militar em Bissau, Mário Barbot Costa, que na qualidade de escritor assina como Mário Cláudio, para dizer que tinha havido vários processos contra Marcelino da Mata, mas que todos tinham sido arquivados por ordem não se sabe de quem. É estranho não se saber de quem, mas enfim, isso serve para outro tema. Contudo mostrou total desconhecimento e ignorância sobre Marcelino da Mata, aproveitou-se e recorreu a outros para fazer o seu papel político e desenfrear um ataque torpe e mesquinho a quem nunca conheceu.
Sem qualquer pedido ou necessidade de defesa, uma vez mais e em minha opinião, conheci e privei por mais que uma vez com Mário Cláudio por questões profissionais e já fora da instituição militar, não digo que o conheça de forma a poder afirmar o que pensa, mas estou em crer que apenas disse o que disse para não endeusarem Marcelino da Mata, tanto assim que, segundo Fernando Rosas, começou por escrever que respeitava o combatente Marcelino da Mata, referindo depois ter havido processos arquivados. Não li o que escreveu Mário Cláudio.
Na qualidade de historiador e político, de forma séria, competia-lhe fazer um enquadramento histórico sobre as etnias guineenses e o seu relacionamento para depois falar da actuação de Marcelino da Mata. Talvez então pudesse falar sobre o ataque de que foram alvo e barbaramente assassinados três majores e um alferes, quando desarmados se deslocaram ao que seria um encontro com tropas do PAIGC, combinado secretamente e que visava o início de um cessar fogo…
Ribeiro e Castro ainda lembrou o que fizeram a Marcelino da Mata, depois de 25 de Abril de 1974 os esbirros políticos ligados a alguns partidos ditos de esquerda ou extrema esquerda e que em nada eram e foram diferentes dos seus antecessores da PIDE/DGS, mas não obeve qualquer reacção do seu interlocutor nem do moderador que, à deriva e sem mostrar conhecimento dos factos, deixou navegar sem norte. Nada é comparável? Falamos depois de 25 de Abril de 1974. Talvez só não o tenham morto por receio, pois acredito não lhes faltar vontade e muito menos prazer.
Não quero deixar transparecer que Marcelino da Mata não fez ou não possa ter feito coisas execráveis e não merecesse até punição dentro da instituição que representava. Até para clarificação da posição de Portugal, mas tal como muitos outros processos foram, mesmo hoje em dia, arquivados.
Depois, não podemos e não devemos estar hoje a julgar procedimentos com 40 e muitos anos e fora do seu enquadramento. É verdade que um crime é sempre um crime, mas, como em todos os processos, algumas razões podem ter servido como atenuantes e, neste caso em concreto, a guerra, as etnias, a adrenalina ou calor vivido no momento, mas isso só quem os viveu realmente pode falar, para todos os outros não passa de filme.
Quando 'Nino' Vieira foi assassinado, num passado recente, talvez por ter chegado a presidente da Guiné, correu por aqui muita tinta a lembrar que tinha sido assassinado e falando sobre como ele tinha sido como aguerrido guerrilheiro que lutou pela sua terra e pelo seu povo etc. etc. etc. Ninguém se lhe referiu como assassino e ninguém falou sobre a bárbara forma como ficou retalhado. Isto só para comparação com Marcelino da Mata…
Também, quando Jonas Savimbi foi assassinado e nos foi apresentado como morto fez igualmente correr muita tinta nos nossos jornais, mas o politicamente correcto impede que isso se faça com Marcelino da Mata.
Estas duas notas servem para lembrar que se podia e devia falar sobre história e sobre as formas brutais e bárbaras como lutam entre etnias e até aproveitar para falar sobre temas como a mutilação genital feminina e outras práticas e tradições do povo africano no seu estado puro.
Há quem defenda que os anos passam por nós e nos tornam mais sábios e tolerantes, que os impulsos da juventude são corrigidos pelo passar dos anos etc. etc. etc. Não sei se será o que acontece com todos, a necessidade dos holofotes sobre si, a vaidade, ou outras razões de necessidade levam muitos a não conseguirem estar tranquilos e a obrigarem os outros a deixarem de estar.
Eu, e estou crente que muitos outros que passaram pela Guiné no período da Guerra, estão agradecidos à TVI por lembrar e falar sobre a morte de Marcelino da Mata, só lamento que não tenha sabido escolher melhor os elementos do painel e melhor preparado o moderador. Poderiam ter escolhido melhor as figuras do painel, mantendo as que quisessem, mas procurando outra ou outras figuras com conhecimento da operacionalidade de Marcelino da Mata, como, por exemplo, o Coronel Matos Gomes, igualmente figura pública com obra publicada, operacional em acções conjuntas, conhecedor e por certo, muito mais isento e assertivo nas palavras.
Resta-me desejar que Marcelino da Mata, finalmente, descanse em paz.
Um abraço,
Belarmino Sardinha
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)